sábado, 26 de fevereiro de 2011

Bem e Mal

Pensamos na maldade, convivemos com ela, trazemo-la para dentro de nossos lares e impressionantemente já não nos surpreende tanto. A luta entre o bem e o mal atravessa séculos e parece estar longe de terminar. Aqueles praticantes da maldade são dignos de lástima, uma vez que confiam em suas deduções paradoxais degeneradas, representa a desordem, o arbítrio, a anarquia e, vaidosamente se chama de mal. Todavia, mesmo com o estrago devastador que produz por si só condena-se ao aniquilamento. O coração da maldade é a violência, e esta ocorre imposicionando sofrimento às pessoas, este é um aspecto da dor e tem significados distintos.

Certa vez li que nossa maior fraqueza é olharmos as mesmas barbáries do passado e transferi-las a conceitos que já não satisfazem a mente moderna. Este mesmo artigo nos conduzia a refletir sobre imperialismo americano jogando sua magnânima bomba atômica nas nações mulçumanas. E se eles por sua vez, radicais ou fundamentalistas, implantassem o terror desmedido a todas as nações que lhes são contrárias? E se os judeus destruíssem os palestinos? Quem é o verdadeiro diabo, Hitler ou Mussolini? Matar 3.000 pessoas justifica o holocausto de 30 mil? (Japão x Pearl Harbour / EUA x Iroshima e Nagasaki) Quem é o diabo dessa história? Quem é o detentor da maldade? Que medida, que consciência, que razão, que sensatez ela tem? Quem a provocou?

Ainda haverá outras guerras que nos parecerão diabólicas e que os povos não menearam com qualquer estigma de reprovação. Afora essas divindades que várias nações proclamam funestas e ainda assim as honram com terror religioso. Todavia, há de se notar que um falso culto heróico lhes rendeu, entretanto os marcou com terrível e indelével abominação.

Se nada é realmente bom ou mal, como é defendido por alguns, então não existe nenhum padrão de valor além das preferências pessoais. Aposte-se na corrente oposta (os corajosos), cuja base é a renovação da consciência da maldade que muitas vezes uni-se com o interesse ressuscitado na natureza do mal (essencialmente). Basta-se lembrar das hipóteses de progresso (que progresso?), que trazem impressas em suas bandeiras o sangue extraído dos horrores marcados na história da humanidade. Reavalie-se. Seria então a maldade inerente à natureza humana?
Eu particularmente prefiro deter minhas preocupações na maldade que parece ter-se tornado permanente na conduta humana. Mas deveríamos fitar-nos a aprender a conviver com a essência do mal inserida em nosso ser? Seria impossível então distanciarmo-nos dela? Como poderíamos dar inicio ao processo de (r) evolução recriando o conceito de progresso e por que não dizer dos padrões da vida?

Não seria hora de alargar a visão para os conflitos da alma e, com coragem, buscar alguma chance por menor que possa ser, de afastar a humanidade da ruína que a desenha com tanto apreço e zelo?
Clamo aos corajosos.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Borboletando

Hoje me convido a borboletar. Isso mesmo. Entrar em metamorfose, evoluir, virar páginas - e por que não dizer fechar livros inteiros. Encerrar histórias e estórias (daquelas que só existem na nossa cabeça). Mudar para melhor, aliás, mudar de mala e cuia para o extraordinário. Excelência pura.
Talvez até renascer. Sim! Como a lagarta renasce na borboleta. Adoro borboletas, me inspiram. Instigam-me a amar meu casulo, respeitá-lo sabe. Afinal, é lá que eu me refaço, me reconstruo, me reinvento. Guardo-me enquanto simplesmente aguardo um novo dia. É lá que me sinto protegida.

E, uma vez refeita ofereço-me à natureza. Inteira. Despida. Com a alma leve como as asas desta borboleta que me sinto. Não importa quão breve será minha vida, em quantas rosas espinhentas hei de pousar, quantos predadores hão de me caçar. Não importa. Ainda assim, seguirei borboletando.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Porque continuar lutando?

Pergunta difícil de responder. Às vezes é tudo tão difícil, tudo tão calcificado, dolorido, penoso, custoso (poderia passar o dia aplicando adjetivos). Às vezes sinto que estamos em guerra. E não é uma guerra entre nações, é uma guerra dentro de nós, com direito a feridos e mortos. Imagino que em meio a esta guerra é fundamental motivar-se no que um verdadeiro guerrilheiro espera: Voltar pra casa!
É nisso que penso quando estou numa guerrilha tão aguda que cega meus sentidos e oprime minha força. Levanto a cabeça, limpo o sangue e a arma e continuo lutando. Voltar pra casa é voltar ao lugar da paz, é sossegar-se num canto dentro de você e respirar a tranqüilidade dos vencedores, ainda que feridos ou mutilados. É sentar-se na beira da cama e olhar os ferimentos ocasionados pela guerra com amor e respeito e limpa-las, tratá-las e cuidá-las.
Tenho consciência de que muitas destas guerras são solitárias e que nem isso é motivo para desistir da luta. Se desistirmos, estaremos desistindo de nós. Minhas lutas são minhas e a ninguém mais pertence. A única coisa que quero e espero é que na volta pra casa, eu tenha ao menos um abraço ou um ombro para segurar-me.
Mais que isso, sararei todas as minhas feridas porque, igualmente a mim, há de virem muitos outros guerrilheiros feridos e eles precisarão de mim. E eu estarei lá. E simplesmente direi: é bom tê-lo de volta em casa.

Luiza de França, 24/02/2011, as 09h30min

DESABAFO

Sabe aqueles dias que você acorda, respira fundo e sente vontade de apertar o botão “OFF”? Ahhhh, onde é que fica esse danado? Me digam!!!
Alguém sabe como voltar no tempo em que não tínhamos preocupações? Por hoje, eu trocaria as contas de aluguel, luz, água, condomínio, remédios, TUDO por um caderno de desenho e alguns lápis de cor. Trocaria o ônibus lotado (diga-se de passagem que passo 1h30min dentro de um todos os dias, em pé, ida e volta) pelos carrinhos das bonecas. E, falando nelas, trocaria o computador do trabalho por uma bem linda, com um belo vestido e longos cabelos para eu estragar de tanto pentear.
Trocaria as loucas 9h de trabalho diário por algumas horas de inocentes e bobas brincadeiras. Ahhhh, e aquela sonequinha depois do almoço. Trocaria aquelas ligações que insistem em afetar o meu humor, sempre cheias de cobranças e julgamentos. Queimaria as roupas, sapatos, bolsas, maquiagens... Tudo o que me obriga a estar sempre com boa aparência. EXIGO meu direito de usar rabo de cavalo, andar descalça, deitar no chão da sala, ver desenho animado e comer bastante batata frita na hora do almoço com muito, muito catchup e maionese.
Bom, por hoje chega de sonhos. Preciso voltar a trabalhar. Mas INSISTO:  Se descobrirem onde se enfiou o danado do botão OFF me falem!
Mas, independente de qualquer coisa, ainda sou a mesma Luiza.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Um Sonho Chamado Terra (Texto de Sidney Niceas)

. . . . . . . . . . .: Um Sonho Chamado Terra: "Terra. O planeta em que vivemos. Um sonho do Criador visando estágio probatório. Belo. Materno. Ilusório. A cada dia a realidade oníri..."

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Anjo que me guarda

Santo anjo do senhor
Que acumulais em seus tesouros minhas súplicas e lamentos e os despeja graciosamente aos pés d´Ele.

Meu zeloso guardador
                Torna-te sombra minha de cada dia e a cada instante inspira-me com tua candura.

Se a ti me confiou a piedade divina
Se a ti fui confiada então, obediente, guardo-me debaixo de tuas asas e ventilo minha alma enquanto aguardo pela graça piedosa do nosso pai.

Sempre me rege
Direciona os passos meus e não me permita inclinar um segundo sequer para o lado oposto a tua voz.

Me guarde
Abraça-me no calor de tua singelidade e mantêm-me apartada dos que almejam me envergonhar, zombar ou destruir.

Me governe
Torna-te meu governador e atrai-me para o meu senhorio, satisfazendo assim vossa vontade de maneira obediente e resignada.

Me ilumine
Ah, minhas noites escuras iluminai com tua sabedoria e com os raios de teu singelo sorriso. Não me deixais sucumbir na escuridão de minha alma, traz-me a luz e na luz me faz permanecer.

Amém
                Assim seja! Detenho-me sob tua proteção e nela hei de repousar.

Memórias

Encontrei num canto qualquer do meu quarto úmido e escuro um velho baú. O abri e verifiquei coisas que há muito não lembrava. Alguns sonhos que nunca se realizaram, resquícios de outros que se consumaram. Vi cartas delicadamente arrumadas com suas folhas já amareladas (quantas histórias...). Fotografias de um tempo que já havia se perdido dentro dos anos que ruíram (aqueles rostos...). Recordações que já havia esquecido – uma a uma.
Aquele cheiro de “velho” de “guardado”, aquele aroma de “passado” me remeteu aos dias que já não conhecia. Tudo tinha cheiro, textura, cor. Tudo era tão “antigo” e ao remexer naquele velho baú era como se um carrossel se formasse naquela penumbra trazendo aos galopes todas aquelas imagens como se houvessem acontecido ontem e eu entontecendo, fazendo um esforço sobre-humano de fazer voltar o colorido daquelas histórias e viajar no tempo, ou simplesmente trazê-lo de volta.

Não encontrei uma ordem lógica entre os acontecimentos registrados naquelas lembranças materiais (ou imateriais). Cada coisa que eu mexia trazia outra agarrada como uma traça esfomeada agarra-se ao seu alimento. O que eu faria com aquilo? Olhavam-me como se gritassem por socorro e me suplicassem o colo ou mesmo um lugar dentro das memórias mais recentes e as tornasse inesquecíveis. Suplicavam chorosas!
Fotos, cartas, botões, a velha boneca, aquele chaveiro quebrado, laços que um dia enfeitou-me (não lembro em que ocasião), velhos CD´s com suas caixinhas quebradas, a flor ressequida dentro do livro que li, o caderno de cifras que nunca usei, a paleta do violão que nunca toquei... Tudo jazia vivo e pulsante e sangrando e gritando e suplicando e estendendo os braços e ... Imortal (...)
E, de repente, tudo estava ali, de volta. Vivo! Com cor, formas perfeitamente contornadas e entendi o esforço que minha memória fez (anos após anos) em apagar cada registro. E chorei! Mas aquele baú, aquele velho baú, tinha agora outro sentido. Era meu pequeno, úmido e não esquecido altar particular!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Vento de saudade

Quente o vento uiva
Ouço o som saindo entre seus dentes (afiados)
E já não ouço minha voz. Calo-me

Sopra suas asas que não alçam mais vôos e seu hálito quente derrubam-me
Traz como algoz a poeira e cega-me
Atenua-se, por misericórdia, revertendo-se em leve bruma

Os pinos do velho relógio enferrujam toda a engrenagem
As horas acumulam-se como corpos empedrenirdos
O tempo não passa!

Paro naquela velha estação e observo o vai-e-vem de rostos emudecidos (gélidos)
Sento num banco todo rabiscado. Permaneço. Estagno-me. Ponho-me ali, inerte
Pousa um pássaro e o fio fino cala-lhe o canto
Estufa o peito e voa!
E eu, ali. E o quente vento ainda uiva

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Barraco de vidro

Os vidros trincaram, mas não  chegaram a quebrar
Tento remendá-los, impedir que que se estilhacem
Enquanto tento, corto-me!
O sangue escorre no seu transparente escudo e tingi-o de um vermelho forte
O cheiro! O choro! Contenho-me!

Distraiu-me com um pássaro na janela
Uma garoasinha se aproxima e vejo pingos cairem lentamente
Folhas secas por todo o quintal, frutas apodrecendo no chão
Janelas e portas abertas – aguardam a sorte (e ela vem)

Um menino com calção amarelo brinca na lama que se forma
Abre os braços, arregala a boca e abocanha algumas gotinhas
E dança, e canta, e pula e vive. E vive

Aquela sensação de isolamento, desolamento, descontentamento, enegrecimento reduziu-se e resumiu-se a um longo sorriso

O sangue já nao tinha mais cheiro
O vidro, já não me importava mais suas trincas
E, naquele momento: o pássaro, a chuva, o menino, as folhas, as frutas
Tudo me fez sentir mais leve, mais feliz e mais livre

E entendi que, se meu barraco é de vidro, é fatal que trinque: esse é seu fim
Mas nunca, nunca será o meu! Meu barraco é de vidro, mas eu não!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Tata e outras histórias...: elogios são flores que enfeitam a alma. (LINDO, parabéns TATA)

Tata e outras histórias...: elogios são flores que enfeitam a alma.: "É uma alegria receber um elogio não acham amados?Quando alguém reconhece algo que fazemos, dá aquela sensação quentinha no coração e um..."

Voando

E foi assim, criando e recriando, rejuntando pedaços e pequenos fragmentos de mim que tornei-me quem sou e assusta-me concluir que não sei. Mas presumo que este é o encantamento que torna tudo possível: não conhecer os limites, não ter todas as respostas, não saber identificar todos os sentimentos – e tão somente senti-los. É como cair de um penhasco e gritar com um sorriso rompendo o selo dos meus lábios que adoro voar. E vôo. Sinto o vento agredir-me o rosto e vejo tudo tão pequeno que não há como me assustar. E abro meus braços como se pudessem abraçar tudo ao mesmo tempo: e posso!
E vôo cada vez mais. Salto de penhascos cada vez mais altos. Tenho asas nos pés como Hermes (ou Mercúrio). Difere-me apenas o fato de não ser mensageira dos deuses e nem ousaria ser-lo, mas de mim mesma.
Não tenho medo! Mas sinto aquele friozinho na barriga que antecipa ora momentos bons, ora momentos ruins. Não importa. Preparo-me para todos e caminho (vôo) por estes dois pólos vivendo tudo ao seu tempo i n t e n s a m e n t e.
E quando tudo acabar quero continuar voando (com minhas asas nos pés), rompendo cada nuvem e abraçando o impossível porque, sinceramente, não desejo outra coisa senão continuar a pular de meus mais altos penhascos.

Repintando

Hoje eu quis me libertar de todos os meus preceitos, conceitos e preconceitos.
Quis que tudo em minha vida fosse perfeita, quis que todas as correntes e algemas estivessem aos meus pés tal qual guerreiro rendido e vencido ante minha brava luta e vitória
Quis me desnudar... Não corporeamente, mas a alma, o espírito, o coração
Simplesmente nua
Tentei projetar a minha frente uma fonte tão pura quanto a minha alma se tornara em meio aos meus devaneios progressivos
Tão límpida, clara e rara era a fonte. Aproveitando da minha súbita nudez, desta vez também corpórea, banhei-me naquela fonte cristinalina que de tão bela a lua inibiu-se em a aparecer para não disputar com sua beleza, sabia-se já derrotada.
A água corria pelo meu corpo, não sentia frio. Mas de alguma forma sentia que era a minha alma que estava ali derramada, inundada, cristalizada naquela perfeita fonte.
Como criança brincando na água, deslizei minhas mãos sobre a água causando-lhe alguns ondulamentos que iam e vinham com perfeita regência.
Vi os sonhos mais lindos que já tive e que já me havia esquecido. Vi a esperança aparecer, crescer e renascer.
Mas eles, os sonhos, já não eram tão importantes, bastava-me ali naquele momento a capacidade de revê-los e considerar-me capaz com outra maturidade, com outro reflexo de realidade, projetado em coisas mais palpáveis e assim reproduzi-los novamente. Não como uma pintura feita por cima de uma tela já manchada, mas numa nova tela, com novas cores, uma outra perspectiva, um novo olhar.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Meu diário de páginas brancas

(...) Escrevo
Mesmo que ninguém leia, escrevo
Me refaço das promessas que nunca cumpriram
Me reergo das ruinas que construiram em volta de mim


Fico em meu canto e canto para eu mesma dormir, e durmo
Já não choro mais por mim mesma e ninguém parece notar, e choro
Minha vida segue com um diário de páginas em branco, e escrevo... e queimo

Queimo e todos parecem gritar queimando suas mentiras, meus sonhos
E a fé, e a paz, e o sorriso... tudo queima e arde
E arde enquanto reina a minha raiva e tudo a queimar

Eles seguem consumidos por suas máscaras
Sabendo que ninguém se importa
Ninguém vê que estou lá, e estou... e ainda escrevo
E assisto a tudo... e tudo parece desaparecer...

Meu diário de folhas brancas, ninguém lê
O fogo... as promessas... A raiva... Arder...
E escrevo... escrevo... ainda vou escrever

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Abandono

Despi minha alma deixando-a totalmente desnuda. Deitei-a naquele chão gélido e a vi estremecer enquanto apenas me distanciava (não a merecia). De longe, ia-me e observava que ainda suspirava com certa e estranha calmaria (admirei-a). E fui-me. Vazia, sem poros, sem ar, sem hálito, sem pensar, sem pesares. Simplesmente fui-me. Um corpo andando como um sepulcro vazio, uma caixa de carne despida de sua mais nobre vestimenta. O colorido do caminho ia acinzentando-se, a luz ia-se empanando até o breu total. As vidas à volta iam-se retirando uma a uma até o isolamento total. Tudo que tentava tocar desvanecia com brutalidade total que sangrava. Sangrava pedra, chão e ar. Como um zumbi apenas ia. Mas algo fez aquela caixa de carne regressar. Encontrou-a. E ali, naquele chão gélido, lá estava ela: minha alma. E ela ainda respirava.
Aquele zumbi que me tornei abaixou-se e, com os dedos ainda respingando sangue, tocou-a. Um suspiro mais intenso se deu, retrai-me. Deitei ao seu lado, encolhi-me toda e fiquei a olhá-la. O universo deixara de existir naquele momento. Nada fazia mais sentido. De repente percebi-me triste: como pude deixá-la ali? Como pude despir-me dela?  De repente lá estava eu, sem rosto, e ela me salvou.

Triste

Às vezes me pergunto se o acaso de fato existe. Se acontecimentos atípicos ocorrem para que, como num teste, tenhamos que fazer a melhor escolha. Me pergunto por que determinadas coisas precisam acontecer, por que temos que conhecer determinadas pessoas, nutrir determinados sentimentos e explorá-los, inconscientemente, ao máximo de tal forma que se torna irremediável. E ali, nos tornamos mesmo que temporariamente escravos de um sentimento tão forte que ficamos sem escolha, sem caminho, sem saída, sem pés no chão, sem curso, sem tino. Mesmo que no fundo saibamos que teríamos outras escolhas, elas parecem tão distantes e tão impossível, tão inalcançáveis e tão improváveis. E, mesmo assim, se tudo isso, se todo esse sentimento ainda te proporciona um segundo sequer de felicidade, se consegue por um instante te fazer dar aquele suspiro de tranqüilidade e paz, mesmo assim, continuamos a acreditar que no fim tudo acabará bem. Tudo ficará bem. E é isso que nos move.
Triste.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Meu chão de ipê

Imaginei aquele velho caminho que por tantas vezes passei, seus corredores repletos de lindos e coloridos ipês. Fazia seu espetáculo de cores e suavidade ao mesmo tempo que doava suas belas folhas para servirem de tapete. E nele meus pés pisavam, descalsos ou não, enquanto meus olhos admirados contemplava os raios de sol que atravessavam as folhas que ainda moravam em seus finos e altos galhos.
Os passáros também não faziam-se de rogados, aproveitava aquele belo cenário e faziam festa naquelas secas folhas sacudindo suas asinhas – esparramando-se - levantando seus biquinhos e cantarolando (ou rezando). Não se importavam por eu estar ali também.
Abaixei-me, toquei aquele rico chão. A terra ainda molhada pelo frio da noite que se fora, fornecia um delicioso perfume. Apertei aquela terra úmida, senti entre meus dedos cada partícula que lhe compunha. Continuei caminhando e alí, não tinha posses, bagagens, letreiros, martine, arrogância, maldade, roupas ou máscaras... Era só eu e as folhas secas dos ipês. Senti-me livre presa naquele belo corredor colorido e iluminado pelos raios de sol.
Poderia voar, embora não tivesse asas. Mas minha alma (livre) possuia asas e percorria o oceano inteiro sem sequer sair do lugar enquanto deslizava suas mãos sobre as águas num rasante voo.
Ia e vinha... oceano e ipês... mãos na terra, mãos no mar.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

(...)

O céu se faz em festa quando ele vem, se colori todo e se arbusta todo, não se acanhando, exibindo sua aurora bureal.

O mar entoa lindos e antigos canticos animando suas ondas a bailarem produzindo o mais belo espetáculo.

E os anjos, todos descem para te espiar, inclinam-se de cima das nuvens produzindos lindos ruídos de suas doces risadas. Com sua bochechas rubras se dobram e incham.

Ah, e eu! Eu apenas te admiro e espero novamente que voltes a passar... por aqui... por mim...

E voltas!

Só uma oração

Santos de todos os nomes que aguardais o revesso das almas perdidas
Vós que tumultuais o mais alto dos céus
Digam-me, pela prece agoniada que vos dirijo que paz tem a mim reservada?
Que luz há de alumiar-me? Que vento há de refrescar-me? Que água há de purificar-me? Que amor há de consumir-me e fazer-me morrer então de amar?
Digam-me, oh doces mártires? Há respostas?
Quantos de vós ocupais-se assim da minha prece tão louca e sem sentido? Quantos de vós inclinais-se à minha tão exagerada pequenez?
Não temam! Minhas misérias não poderiam vos consumir! Não teria eu como vos tornar inclináveis aos insumos de meus pecados!
Ah, mas vós ao me tocar poderiam purificar-me! Poderiam livrar-me dessa agonia que não conheço bem. Poderiam tornar brandas as dores que me queimam e consomem fazendo cair meus pedaços ao chão que eu mesma piso...
Tragam-me os anjos à minha presença, vos suplico, para que cantem frente à minha lápide com suas asas influenciando o vento. Que esse vento venha refrescar-me o suspiro último que não dei, de tão ardido e quente, foi-se antes do tempo esperado.
Mas ouvirei alegre, com a boca manchada com o amargo fel, e sorrirei.
Sorrirei e lembrar-me-ei da presença de todos vós quando chegar ao meu destino. E lá, farei um pequeno jardim, plantarei algumas florzinhas e para cada uma delas dar-lhe-eis vossos nomes. E todas as manhãs hei de molhar-vos com minhas lágrimas e rejubilarei quando, em retribuição, me oferecerdes seus botões.
(...) e sorrirei
(...) e chorarei
(...) e descansarei


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Pra ela sorrir - mesmo com dor de dente

Quando era pequena (hoje tenho 1m65cm) e queria muito fazer alguma coisa, minha mãe dizia:
- Só amanhã.
Daí eu pensava: Se eu for dormir cedo, o dia passa logo e logo chega amanhã. Mas daí eu acordava muito cedo e ela dizia:
- Só mais tarde.
Mas como eu acordava muito cedo, logo sentia sono novamente, e perdia de fazer o que tanto queria...
Perto da minha casa tinha uma barraca, não daquelas que vende pitu. É daquelas que vende confeito, pipoca e aquelas lingüiças que ficam penduradas numa corda. Alias, nunca entendi porque ficavam penduradas. O dono da barraca chamava-se Seu Bau. Ele era grande, gordo e careca, gente boa Seu Bau.
Toda vez que eu ia comprar confeito – que na maioria das vezes tava derretido e eu acabava comento o papel – eu dizia:
- Seu Bau, me dá um pedacinho de lingüiça!
Ele sempre dava. E eu ia comendo pela rua. Era gostosa. Tinha cor de tomate. Eu não gosto de tomate. Mas todo mundo diz que é bom para o sangue e para os rins. Nunca soube onde ficava os rins, aliás, sempre achei que rins era o plural de ruim. Mas minha professora nunca comentou nada a respeito.
E o sangue? Porque será que ele gosta tanto de tomate? Vai saber!
Quando chegava a noite era legal. Não tinha energia e vovó ficava na cadeira de balanço dela contando piada. O lampião ficava aceso. Todo mundo sentava pra ouvir. Acho que era engraçado porque todo mundo ria. Tinha um cachorro lá de casa que se chamava Tupi. Toda vez vovó dizia:
- Tupi danado, você soltou outro “PUM”. Sai daqui.
O pobre do Tupi saia de fininho. Mas em seguida ela chamava ele de novo e continuava a contar piada e todo mundo ria. E de novo:
- Tupi seu sarnento. Você soltou outro “PUM”? Fora daqui!
E assim era a noite toda. Mas uma vez, vovó disse a mesma coisa:
- Tupi, vou dar uma surra, você soltou um “PUM”.
Mas o pobre do Tupi não tava por perto. Fui olhar, ele tava lá no fundo do quintal dormindo num buraquinho de terra. Meu irmão disse que não foi ele. E eu sei que não fui eu.
Será que foi vovó esse tempo todo?
Hum!

Reinventando

Lentamente minhas mãos se erguem e tentam alcançar meu rosto
Mantenho os olhos fechados e tento traduzir o que é mostrado ao tato
Há um grande conflito, divergência entre o que minha lembrança mostra e o que meu tato lê
O velho e o novo! O que é e o que era!
Não conheço estes sinais gentilmente cedidos pelo tempo e com o tempo

Refaço o mesmo caminho e volto um pouco
A pele mais rígida, mais tenra, mais firme
Não há tantas marcas
Doces sonhos, eternas promessas, inúmeras ilusões
Ah, o belo poema febril da juventude

Continuo o meu regresso caminho
Brinquedos e desenhos por toda parte
Bolo da vovó, amiguinhos no jardim, corda de pular, boneca de pano
Nada a se preocupar, alias, é preciso pensar na próxima brincadeira, próximo brinquedo

A caminhada continua
Não ando, sou levada nos braços do amor que por amor me concebeu
Não me alimento, o amor me alimenta enquanto olha meus pequenos e confusos olhos
Não falo, mas o amor entende cada palavra que ainda não sei pronunciar

Caminho mais um pouco
Volto ao lugar quente, úmido e protetor: matriz que me cerca e me define
Útero celeste, guardião de promessas, casulo

A caminhada continua
Agora só um sonho, um desejo
Um Deus que idealiza suas criaturas e as faz ganhar vida, forma, cor
Não existo
E retrocedo no tempo novamente
E volto a tocar meu rosto, marcado, conflitante, maduro
E tudo recomeça com o fim

É preciso lembrar

Vou fechar meus olhos por um momento
Não quero que este momento se vá novamente (se foi)
E aqueles sonhos? Gastaram-se nos olhos da curiosidade (se foram)

Ouço aquela velha música (terminou)
Resta apenas uma gota d´água que ainda não caiu
Mas o mar é interminável (infinito) e a aguarda
Destroços de memória esmigalhados e caídos em pedaços ao solo (e pisam)

Nos recusamos a ver: somos tudo o que sobrou

Mas ainda há tempo!
É preciso fechar os olhos por um momento
E lembrar...

É preciso lembrar o que somos
É preciso reconstruir o que somos

Vou fechar os meus olhos por um momento
E lembrar...

Meu mar

Ah
Teu cheiro vêm com o vento, andando ou dançando, não sei ao certo
Mas sei que vem de braços dados como se um só fosse
E ele vem forte embriagando-me, inebriando-me, enfeitiçando-me, encantando-me
Vem claro com o dia, quente com o sol e toca com suavidade cada parte de mim

Ah
Esse teu cheiro de que necessito, busco, preciso, quero e almejo
Ar que se abriga em meus pulmões e estes o recebe como a um filho
Entrego-me a esta sensação como um barco ao mar e deixo tuas águas turvas me levarem
E sigo... E sigo... Velejo contigo sem notar o horizonte... Apenas sigo...
Mesmo que não notes, mesmo que não vejas, mesmo que não sintas
Sigo! Velejo!

Tuas ondas me cercam e inquietam meu velho e cansado barco
Ah, mas tudo é música, até tuas ondas cantam! Quero ouvi-las...
Não me importa que me consumas... Consumida já estou a tempo
E no tempo me consumo mais, e tanto, e sempre...

E sigo

No mar... o mar... Meu mar !