quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Âmbar (Adriana Calcanhoto intepretada pela eterna Maria Betânia)


Tá tudo aceso em mim
Tá tudo assim tão claro
Tá tudo brilhando em mim
Tudo ligado
Como se eu fosse um morro iluminado
Por um âmbar elétrico
Que vazasse nos prédios
E banhasse a lagoa até São Conrado
E ganhasse as canoas
Aqui do outro lado
Tudo plugado
Tudo me ardendo
Tá tudo assim queimando em mim
Como salvas de fogos
Desde que sim eu vim
Morar nos seus olhos

A arte de apenas seguir

Instante sublime
Momento incontestável de magnitude humana
É assim! Àquela hora em que paramos e pensamos: que direção seguir?
Os atalhos que a vida nos oferece, as várias possibilidades
Aquele segundo breve e pálido onde devemos apenas decidir e, seja qual for à decisão, por mais que conheçamos os caminhos, jamais, em tempo algum, poderemos conhecer o seu final sem antes percorrê-los. E muitas vezes nem mesmo o caminho nós conhecemos.
Mergulhamos num breu impetuoso impulsionados apenas por uma força desconhecida que nos leva a acreditar que tudo dará certo.
Depositamos ali expectativas, sonhos, desejos e nos entregamos de forma tal que todas as pedras parecem apenas plumas e flores acariciando nossos pés enquanto apenas seguimos.
Forma certa? Errada? Quem há de julgar? Dedos falsos e maldosos insistem em nos apontar como se donos fossem da mais absoluta verdade enquanto vivem suas vidas de irreais moralidades.
Mas seus gritos agourentos não podem emudecer nossa voz, nosso canto. Seus olhos incriminadores não podem embaçar nossa visão impedindo-nos de apreciar o caminho que, certo ou errado, escolhemos seguir.
Se dará certo? Quem há de garantir? Não temos garantias! Enganam-se quem crê que as tem. No máximo o que poderá acontecer é arrebentarmo-nos num rochedo implacável ao final da estrada, todavia as flores do caminho ainda resistirão em nossa memória. E, como nossa natureza nos induz, levantaremos e seguiremos de novo, e de novo, e mais uma vez.
Construiremos novas histórias. Percorreremos novos caminhos. Colheremos novas flores. Guardaremos novas paisagens.
Certo ou errado? Quem há de julgar?
Quem há de gritar nosso nome nas ruas como se fossemos malditos mouros? Ou façam-nos de meros tumbeiros?
Apenas sigamos! Revistos pelo escafandro mais belo e mergulhemos no útero do mar. Permitamos que o gentil crepúsculo guie-nos e assim, refaçamo-nos como apenas e simplesmente atóis repletos dos mais belos e coloridos corais. E ali nossa estória recomeça e já não os ouvimos nem os vemos.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Eu´s

Estava eu a andar pela rua, nua, crua
A luz não havia! O vento já cessara!  As estrelas do céu já recolhidas
De repente vi! Não os teus olhos, mas a luz que deles saia
Mirei-os. Segui-os. A fim de encontrar o que nem soubera ter perdido
Tal qual faróis a guiar o pescador solitário no mar alto e inquieto
Segui-os. Mirei-os
Não calcei os pés. Não protegi o corpo tão reprimido e indefeso
Apenas me pus a andar e andar e and...ar
Te perdi! Num momento de distração não estavas mais ali
Breu total. Negrume infeliz.
Esbarrei numa pedra e ali encostei-me e adormeci
Acordei e me deparei comigo mesma... Encolhida... Embranquecida... Inerte... Imóvel...
Sai de mim mesma e pude ver-me ali, caída. Estranha sensação de vazio e ao mesmo tempo de refazimento. Meus dois Eu´s agora um diante do outro como nunca fora, como nunca pudera
Peguei meu outro eu desfalecido no colo, esquentei-lhes as mãos, soprei-lhe de leve seu rosto a fim de que o calor de meu hálito pudesse esquentar o rosto tão fragilmente embranquecido
Olhei para aquele outro eu e admirei a criação perfeita num ser tão imperfeito e fiz renovar-se o amor que tivera perdido
Amei-me. Amei aquele ser tão frágil ali adormecido. Amei cada ferida já cicatrizada e acariciei as mais recentes e ainda abertas. Amei cada marca do tempo tatuada em seu rosto, amei
Amei os calos de suas mãos donde não se via nenhum sinal de realeza, mas de súdita, ou talvez de escrava. Amei e continuei amando... Mesmo que, jamais venhamos a nos olhar simultaneamente. Mesmo assim, eu, ainda estarei ali. E ainda que eu não esteja, ela – meu outro eu – estará e fará o mesmo por mim.

Descobertas

Há séculos se ouve falar e, assim fomos ensinados, que o maior elo entre os seres humanos é a COMUNHÃO: Comum União. Questiono-me se nosso maior propósito é UNIFICARMO-NOS com o fim de manter a força vital da sobrevivência e assim atrair os instintos de forma ordenada, concatenada, integrada.
Lançamos-nos em desafios enlaçando mundos que ora criamos polarizando-nos e igualando-nos a todos os aspectos da existencialidade estabilizando toda e qualquer oportunidade de RENOVAÇÃO unindo e reunindo todas as dimensões do SER.
Às vezes chegamos à idade do repouso e sequer sabemos nos DEFINIR e sequer percebemos, a essa altura, a oportunidade já postumeira e deixamos de embelezar nossa história breve e temporal que é e não medimos a arte de ser e de viver plenamente. A nós é dado o poder de conferirmo-nos como pessoas, purificar nossas emoções e espírito e deixar que o comandante do fluxo da vida apenas nos guie. E o tempo jaz.
O que é amar incondicionalmente afinal, mediante essa busca intensa e incessante por descobertas, por descobrirmo-nos antes que o tempo de fato finde? Seria equilibrar a lealdade e a integridade como forças positivamente impulsionadoras a uma viagem misticamente espiritual a fim de nos elevar-nos de forma tão grandiosa que possamos derramarmo-nos por outras vidas além da nossa? Ou seria apenas amar tanto a vida a ponto de ACEITAR a sua descontinuidade com bom humor?
Prefiro me inspirar na ilusão e desfrutar de toda a sua magia, canalizando todas as suas energias e atuar como co-criador compactuando com o criador mor e, com sua permissão, harmonizar-me modelando a mais irreal sabedoria e assim manifestar o poder da livre vontade. Seria mesmo ilusão ou a expressão da mais cruel e cristalina verdade?  Vai saber...
Apenas desejo descobrir como libertar meu eu para que ele possa explorar o vazio do espaço apenas inspirado e impulsionado pela união do céu e da terra, buscando a consciência plena das coisas a fim de encantar a atemporalidade do AQUI E AGORA e produzir a receptividade, esteja ela no mais alto nível da consciência individual ou não.
Descobertas! O que serial afinal? Seria a ação ou resultado de conhecer coisas e fazer conhecer o que não era conhecido?
O que descobrimos então? Des cobrir... Cobrir... Esconder... Ocultar... Oculto ficou.