Depois de tentar dormir por 1h30min e convencer-me de que não conseguiria, levantei. Acendi a luz. Liguei o computador. Loguei no blog e me pus a chorar. Não era um poema que iria sair de mim para que amanhã vocês o apreciassem.
Não gosto de falar muito do que esteja sentindo de forma explicita aqui, me expresso nas entrelinhas. Gosto que entrem e vejam o melhor de mim embora não seja lá expert em escrever. Mas gosto de deixar algo que gostem de ler. Mas hoje não tenho muito a dar. Enquanto escrevo meu coração se comprime. Soluço. Encharco o rosto que nem reconheço mais.
Insisto em perguntar por que me roubaram tudo o que tinha. Não era muito mas era meu. Na verdade, com minhas decisões erróneas eu permiti. A gente sempre quer arrumar um culpado por nossas desventuras.
Olho em volta do quarto e vejo minhas coisas encaixotadas, mofando na humidade do ambiente. Sinto falta da minha casa, do silêncio e do cheiro. Dizem que casa de mãe é tudo de bom. Talvez seja pra mim também. Mas não tem sido no momento. Entro no email varias vezes ao dia e envio mil currículos. Ligo a cada 24 horas para a delegacia para saber se prenderam o animal que me violou, me mutilou, me roubou o pouco de auto estima que tinha. E nada. E me pergunto o que aconteceria se eu fosse a filha de alguém rico, a esposa de um político, a neta de um empresário. Se eu fosse alguém "importante"... Talvez ele nem tivesse fugido, talvez a policia não tivesse levado eternos trinta minutos pra chegar. Talvez ele nem teria invadido a minha casa. Talvez eu nem tivesse que lutar por minha vida, por meu corpo. Mas não sou. Sequer sou a namorada, a filha, a amiga, a esposa de ninguém. É assim que me sinto: órfã. Sei que o que sinto agora me embassa a visão e que amanhã voltarei a enchergar a todos. Mas agora é assim que me sinto e não posso e não vou refrear.
Procuro amor. Só cobranças de que eu seja forte. Que lute contra a depressão que me assombra e que não aceito ter. Não quero ajuda médica. Quero apenas que Deus me conforte e continue a manter minha cabeça reta, com o olhar voltado para frente. Mas as vezes, como agora, as lágrimas pesam e minha cabeça, como a minha dignidade recai.
Hoje sinto-me indizivelmente só. Como se eu mesma tivesse me abandonado, saído de mim. Uma caixa de carne tentando ser humana, normal, forte. Olham-me e chamam-me de fênix. Mas não sabem que ainda não renasci, ainda permaneço nas cinzas. Ainda dói, sangra.
Se tenho esperanças? Tenho. Hoje é só mais uma recaída na qual permito-me ficar um pouco. Lutar cansa. E numa luta, ou se morre ou se vence. E as vezes os dois. Não sei se vencerei, mas continuarei lutando. Até que as armas enferrujem, até que o céu cinza cubra meu rosto, até que eu não consiga mais caminhar. Até que cortejos angelicais me levem.
Não julguem minha fragilidade. Não tenham piedade. Estou colocando pra fora minha lepra e seu cheiro ruim. Eu preciso fazer isso senão me sufoco. Preciso esvaziar-me para colocar coisas boas no lugar. E eu sei que tudo um dia melhora. Deus nunca me abandonou, embora eu tenha gritado bastante o seu nome e no momento só ouço o eco da minha voz avisando que é só o que restou agora. Que é tempo de espera. Que é tempo de paciência.
Mas não quero ter paciência. Quero que lutem por mim, quero que aceitem minha fragilidade e parem de dizer que sou forte, que lutei e venci... porque não enxergam que morro um pouco todo dia. Também não quero que sintam pena de mim ou que passem a mão na minha cabeça. Apenas me deixem atravessar esse rio no meu ritmo, no meu tempo, do meu jeito, do jeito que posso e sei. Quando eu cansar, vou me recostar numa pedra qualquer e logo logo continuarei. Sem saber ao certo onde estou pisando, sem saber onde o rio vai terminar. Sem saber se vou conseguir.
Por hoje, deixem-me sangrar.
Amanhã ou tentar fazer uma linda poesia. Ou um texto que gostem de ler. Mas hoje, é tudo o que tenho pra dar. Não tem música, não tem rima, não tem coesão, não tem imagem. É só isto.