domingo, 25 de março de 2012

Natalidade

Enfiei-me em mim como se pretendesse possuir algo de mim que ainda não conhecera
Adentrei na escuridão escorregadia inalando o odor do desconhecido
Não havia o que temer, não me ousaria ferir-me
Vaguei pelas minhas veias encharcadas pelo vermelho do meu sangue
Embalei-me nas batidas avechadas do âmago inquieto
Continuei a jornada com certa euforia e não sabendo ao certo o que fizera ali, aqui em mim
Agachei-me lentamente eu meu útero e repousei como jamais antes acontecera
De repente, vi-me saindo de mim como que se houvesse pressa e urgência em fazê-lo
Sai! Os olhos ainda embaçados por fina película esforçavam-se para ver adiante
O exterior de sempre... igual... mas diferente
E enfim, nascendo de mim, pude dar meu primeiro choro de vida

quarta-feira, 21 de março de 2012

E ainda brilhavam

A tarde quente e abafada sem árvores dançando persistia ainda numa clareza de céu que lembrava de longe o quente do meio dia. Logo mais seria noite, e o breu enfim venceria a batalha diária enquanto o dia cederia seu lugar em troca de um breve descanso.

Um pratinho estendido, um papelão por assento, um par de sandália - cada uma de uma cor - abrigando os pés sujos e cansados. Um braço enrugado meio estendido amparado pelo joelho. Cabeça baixa abrigada por um surrado chapéu que pouco escondia seu rosto.

Nenhum som de moedas caindo no pratinho, mas o braço permanecia ali.

Envergonhei-me por querer juntar moedas para facilitar o troco do cobrador, ou para comprar a pipoca da viagem diária até o trabalho ou de volta pra casa.

Procurando não ser percebida, esvaziei toda a bolsinha de moedas e logo sai rapidinho. Quando ouvi uma voz rouca, porém fraca: "obrigada menina".

Estranhei, dada as circunstâncias, que seu olho brilhava. Respondi com um inclinar de cabeça e um sorriso e fui-me.

E os olhos dele ainda brilharam.

Lembrei-me dos meus, que por muito, mas muito pouco mesmo, perdem o brilho.

E mais uma envergonhei-me.

"Eu reclama por não ter sapatos. Até que um dia conheci alguém que não tinha pés."

40 dias com Jesus no deserto!

Aos católicos (eu o sou de alma, espírito e coração), esta época é reservada para a meditação em memória dos 40 dias que Jesus passou no deserto.

Lá ele foi tentado pelo inimigo de toda maneira possível. Não foi fácil para ele perseverar na fé, embora seja o filho de Deus, sofreu ao ser tentado. Sentiu fome, sede, medo, vontade de voltar a trás... mas seu amor e fidelidade, sobretudo temor a Deus o fez persistir. Sabia que não estava sozinho, embora fisicamente estivesse.

Para uns, semana santa é só uma data onde se come peixe, toma-se vinho e ganha-se ovos da páscoa (sempre acima do número 23).

Para outros, uma época de meditação, reflexão, de isolar-se de si e dos outros e enfrentar seus demônios, seus medos, suas tentações, em busca de um crescimento pessoal e amadurecimento espirítual.

Uma época para atirar-se no deserto interior e ofecer-se em sacrifício às vontades de Deus. E ele não pede muito, nada que não possamos fazer. Aliás, tudo o que ele nos pede só beneficia a nós mesmo em primeiro plano. Porque é um pai amoroso e sofre ao ver seus filhos perdidos em suas próprias convicções, ilusões e falsas seguranças.

"Quem a Deus tem nada lhe falta, só Deus basta."

Comamos o peixe, tomemos o vinho, deliciemo-nos no chocolate, mas antes, nos derramemos no amor de Deus, reflitamos sobre sua carne chagada, sobre o seu sangue derramado, sobretudo sobre sua vitória sobre a cruz.

Não é preciso pregar-se numa cruz, passar fome ou entristecer-se em remissão dos pecados. Não é isso que ele quer. Basta abrir o coração e deixar que Ele fale com você, que Ele fique com você nesses 40 dias, que Ele te mostre como superar as investidas do inimigo e como sair vitorioso após o calvário.

Se passas teu deserto com Ele, certamente também vences a cruz com Ele.

Bom retiro quaresmal a todos!!!

Celebremos no domingo da Páscoa a vitória daquele foi, é e sempre será o reis dos reis.

Estou de volta!!!

Olá amigos, passei um tempo ausente por motivos profissionais mas aos poucos irei retomando a rotina de escrever e lê-los!!! Agradeço O ENORME CARINHO àqueles que, mesmo com minha ausência, mandaram e-mails dando e pedindo notícias... adorei!

Bom... beijo no coração de todos e vamos rebocar esse barraco que andou meio abandonado!!!

Bjssssssssssss