sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Memórias

Encontrei num canto qualquer do meu quarto úmido e escuro um velho baú. O abri e verifiquei coisas que há muito não lembrava. Alguns sonhos que nunca se realizaram, resquícios de outros que se consumaram. Vi cartas delicadamente arrumadas com suas folhas já amareladas (quantas histórias...). Fotografias de um tempo que já havia se perdido dentro dos anos que ruíram (aqueles rostos...). Recordações que já havia esquecido – uma a uma.
Aquele cheiro de “velho” de “guardado”, aquele aroma de “passado” me remeteu aos dias que já não conhecia. Tudo tinha cheiro, textura, cor. Tudo era tão “antigo” e ao remexer naquele velho baú era como se um carrossel se formasse naquela penumbra trazendo aos galopes todas aquelas imagens como se houvessem acontecido ontem e eu entontecendo, fazendo um esforço sobre-humano de fazer voltar o colorido daquelas histórias e viajar no tempo, ou simplesmente trazê-lo de volta.

Não encontrei uma ordem lógica entre os acontecimentos registrados naquelas lembranças materiais (ou imateriais). Cada coisa que eu mexia trazia outra agarrada como uma traça esfomeada agarra-se ao seu alimento. O que eu faria com aquilo? Olhavam-me como se gritassem por socorro e me suplicassem o colo ou mesmo um lugar dentro das memórias mais recentes e as tornasse inesquecíveis. Suplicavam chorosas!
Fotos, cartas, botões, a velha boneca, aquele chaveiro quebrado, laços que um dia enfeitou-me (não lembro em que ocasião), velhos CD´s com suas caixinhas quebradas, a flor ressequida dentro do livro que li, o caderno de cifras que nunca usei, a paleta do violão que nunca toquei... Tudo jazia vivo e pulsante e sangrando e gritando e suplicando e estendendo os braços e ... Imortal (...)
E, de repente, tudo estava ali, de volta. Vivo! Com cor, formas perfeitamente contornadas e entendi o esforço que minha memória fez (anos após anos) em apagar cada registro. E chorei! Mas aquele baú, aquele velho baú, tinha agora outro sentido. Era meu pequeno, úmido e não esquecido altar particular!

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