quinta-feira, 28 de julho de 2011

Grito silencioso

Sentado na velha cadeira feita por suas mãos encalejadas e enrugadas, o casebre de sapê iluminado por um lampião que queimava querosene incensando o ambiente. Os ombros ligeiramente caídos, as têmporas apertadas esboçava um sentimento que seus pequeninos não sabiam interpretar.

- Que foi Pai?
- Nada não filho, vai dormir.
- Não, vou esperar o Pedro chegar, enquanto isso, brinco com a Maria

O homem olha fixamente para os pequeninos, inocentes, indefesos e sente o peito apertar.

- Pai eu pedi a papai do céu que te desse um trabalho, Ele vai me ouvir eu sei. Porque dizem que Ele sempre ouve as criancinhas que obedece a seus pais e que vão à escola. Diz Maria com lindo sorriso nos lábios.

Pedro chega. Um menino de 8 anos, magrelinho e maior do que a idade supunha. Tira do bolso um saquinho todo amassado e põe na mesa que faz um barulho de algumas poucas moedas. Na outra mão um saco de pão, apenas três foi o que conseguiu por ajudar uma senhora ao carregar suas compras.

O pai, sente o coração ainda mais espremido.

- Pai, você já comeu? Eu trouxe uns pãezinhos, são só três, mas dá para todos comermos na janta.

O pai o olha com admiração, o toma em seus braços e lembra-se quando ele era criança. A história se repete.

- Não filho já comi. Divida com seus irmãos e depois leve-os para a cama.  O que sobrar, fica para o café da manhã.

E assim Pedro obedece. E o pai, que mentira sobre ter-se alimentado, engole a seco às lágrimas que teimam em querer sair e exprime uma prece silenciosa por um dia melhor.

E as crianças vão dormir. Juntam suas mãozinhas e repetem as preces que fazem todos os dias. Preces repletas de esperança e sonhos.

O lampião é apagado, mais uma noite termina.

*** Essa é uma história real, infelizmente. E ficamos a nos perguntar "O que podemos fazer?" e enquanto nos perguntamos o tempo vai passando, vamos consumindo mais do que podemos, ganhando mais do que precisamos, recebendo mais do que merecemos. E outros vão vivendo à margem da sociedade, transferindo sua miséria de geração em geração. Nunca estamos satisfeitos.

Os filhos ficam emburrados quando não lancham na McDonnald. As esposas ficam insatisfeitas quando não são levadas para jantar toda semana. Os maridos ficam stressados quando não tomam seu Whisky. Os adolescentes querem acompanhar a moda do momento que dura cada vez menos.

Viver é caro. E pelo que parece, caro não é o suficiente para nos fazer parar e pensar: Se é difícil para nós, como será para os outros?

Talvez porque não saibamos de fato o valor das coisas e das pessoas. Talvez porque seus gritos sejam silenciosos. Talvez porque não enxerguemos bem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Cada click é um toque, um afago, um carinho. Obrigada por ter vindo, lido e comentado. Paz!