quinta-feira, 23 de junho de 2011

Retrô

Lembram-se daquele tempo em que nossos pais e avós sentavam-se em suas calçadas - tarde da noite - e contavam suas histórias e estórias, contavam piadas inocentes mas que arrancavam de nós belas e longas gargalhadas, do café quentinho com bolacha ou bolo, os coleguinhas que se juntavam para brincar de coisas infantis (de verdade), corriamos tanto que a noite corria rápido, dava tristeza quando acabava. E nos deitavamos para dormir ainda com o coração acelerado de tanto correr e mal podíamos esperar chegar o novo dia para começar tudo de novo.

Havia mais gentileza, as crianças dirijiam-se aos seus velhos como "senhor (a)", pediam a benção ao chegar, ao sair, ao deitar, ao acordar. Televisão ainda não era coisa popular, as famílias ainda sentavam-se na mesa e conversavam sobre tudo. Os pais iam até a cama dar beijo de boa noite. Os filhos corriam para a cama dos pais em noites de tempestades.

Tudo mudou. A maldade sempre existiu. Mas hoje ela não tem vergonha na cara. Nós mudamos e ela agora sorrí com seus dentes de chumbo. Deixamos a maldade entrar em nossas vidas. Perdemos o rumo, o jeito, a vergonha. Nos acomodamos e deixamos ela fazer parte das nossas vidas. Já nem mais a reconhecemos nas pessoas de tão banal.

Ensinamos os nossos filhos a mentir, damos a eles mal exemplo dando-lhes belas lições de vingança, discórdia, desamor. Nossos pais, já não lhes damos a bênção. Nosso avós, já não os visitamos ou beijamos a cabeça branquinha. E nem ligamos mais para suas histórias, ou rimos de suas piadas.

As mulheres mantêm-se com seus maridos por necessidade financeira, e não mais por amor. É antiquado dizer que ama. Os maridos já não passam seus domingos em casa consertando os eletrodomésticos quebrados. Já não compartilham "juntos" aquela velha e bela macarronada de domingo. Cada um no seu cantinho com seu prato. A mesa é objeto de decoração.

As fotografias, sim as de papel, enfeitavam nossos albúns, e sempre nos reuníamos para reve-las e recordar. Cada fotografia uma lembrança, um cheiro, uma história, uma emoção. Hoje temos orkut e facebook, mas as fotografias são de nossos "amigos" (?), eles são cada vez mais diferentes, inconstantes. Os de ontem não são os de hoje. Os de hoje não serão os de amanhã. Engavetamos os albuns. Atualizamos os sites.


Antes, brigávamos por nossas famílias, lutávamos pela união, pelo amor, pelo respeito, pelo carinho. Hoje lutamos por emprego, jogamos, trapaceamos. Corremos feito loucos no trânsito, não gostamos de sinais vermelhos ou de pedestres. Odiamos filas. Nos incomoda o fato de um estranho iniciar uma conversa, somos mal educados.

O que mudou? Para onde foram aqueles que fomos um dia? Como era mesmo seus rostos? E os nossos valores? Onde estamos indo?

(...)

4 comentários:

  1. Perfeito Luiza!

    Há uns 5 anos estava em Surubim revendo um pessoal amigo e o pai dizia-me sentir saudade desse tempo "retrô". Na hora saíram pequenos versos que dediquei a ele, poesia intitulada "Passado":

    As épocas mudaram
    E eu mudei com o tempo...

    Com as agruras da vida
    Amargurei cicatrizes,
    Entranhadas na aura da vida
    Que agora me circunda.

    E aquela época iluminada
    Perdeu-se no andar do relógio;
    Hoje,
    Só me resta a saudade...

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  2. Que lindo, e oportuno. Mas ainda somos felizes por termos ao menos essas lembranças. Nossos filhos, netos... já não poderão dizer o mesmo.

    Obrigada por vir colaborar!!! :-)

    Ps. Quanto ao livro... bom, ainda preciso gastar muita tinta e sonhar muito.

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  3. Lu,

    Que texto mais bonito e tão cheio de ternura e saudade, por um tempo que insiste em não voltar em nossos dias de corre corre e atribulações diárias, mas que queremos tanto resgatar.
    Me lembrei de minha infância, quando ía para a chácara da minha vó no interior, lembro das histórias, do bolinho e do chá de capim-santo... que saudade bonita!
    Vc é fantástica e expõe aquilo que nosso coração berra por dentro e ensurdece nossos ouvidos.
    Meu carinho e admiração por vc cresce a cada dia.
    Adoro ler suas sábias e delicadas palavras.
    Bom final de semana minha querida amiga!

    bjs :)

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  4. Coisa boa Tatá, é sempre tão bom quando vem aqui. É, bateu uma nostalgia de um tempo que não volta, mas uma saudade boa sabe? Daquelas gostosa de sentir. Os amnigos, as comidinhas, as brincadeiras, a vovó...

    Beijos no coração e obrigada pelo carinho de sempre!

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