sexta-feira, 15 de julho de 2011

Saudade boa

Hoje andei revirando o meu baú. Encontrei uma fotografia tão antiga com os rostos borrados pelo tempo e pela humidade. Mas dava para ver bem: uma garota de 5 anos com seu vestido rodado, xadrez em vermelho e branco, com mangas fofinhas, cabelo ralinho e quase branco (feito espiga de milho e com um cabeção), essa era eu. A mão direita na cintura e um sorriso que ficou ali. No mesmo cenário  meu irmão com seu conjunto de shorts e blusa vermelha - as crianças sempre têm o pai por herói, o meu era meu irmão -, completando a paisagem de uma época feliz minha linda avó (motivo da minha nostalgia hoje). Mas são lembranças felizes.

Nunca gostei do meu aniversário porque foi quando ela foi embora e tudo ficou diferente. Era a referência mais real de amor materno que já tive na minha vida. Incondicional.

Sempre que estou triste, lembro dela afagando meus cabelos, colocando no colo, e eu recostava em seu peito enquanto desfazia suas tranças longas e lisas. Meu irmão disputava comigo aquele colinho, mas o dividíamos sempre, era tão meu quanto dele.

Nunca tivemos quem nos dissesse o que era certo ou errado, ou que indicasse caminhos, ou que sentasse conosco para fazer tarefas, ou que fizesse um bolo gostoso no dia de nossos aniversários. Mas tínhamos um ao outro, e ela por anjo. Nossa maturidade veio de mãos dadas. Era necessário crescer antes do tempo, era necessário calar a vontade de brincar, ou simplesmente rir com desenhos animados. Tínhamos de ser gente grande.

Mas essa história não é triste, não a trocaria por nada. Essas linhas não contêm manchas de lágrima (exceto a de gratidão).

Lembro que ela sempre contava para nós que quando se fosse não seria para sempre. Quando quiséssemos falar com ela, era só olhar para a lua que ela estaria lá dentro - sempre imaginei ela pilotando  a lua - (daí o meu hábito de ir imaginando o cenário de coisas que vão me contando, é ouvindo e visualizando) e lembro que quando ela se foi passei dias a fio no quintal de casa olhando para a lua e conversando com ela. Não tem como hoje olhar a lua e não lembrar dela. Não tem como fazer um bolo dia de domingo e não sentir o cheiro do bolo dela. Saudade boa.

Bom, dia 20 está vindo. E é um dia de saudade. E sei que este será muito diferente do que eu gostaria que fosse. Não terão velas para apagar, mas haverão desejos no coração que todos os dias fazem parte das minhas preces. Um em especial talvez não seja da vontade de Deus e tenho tentado me preparar para aceitar isso. Embora seja muito difícil, acho que vou precisar deixar esse "desejo" de lado, pois ele é só meu, e não deveria ser assim para dar certo. Mas aprendi a "dar graças por tudo".

Tottus tu

5 comentários:

  1. "Só se tem saudade do que é bom, se chorei de saudade não foi por fraqueza: foi porque amei"

    Ela deve estar orgulhosa de você.

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  2. Mesmo que não hajam velas para apagar, não apague a esperança. E não deixe que outros decidam sobre sua felicidade. Você é senhora do seu destino viu...

    Te adoro amiga marrenta (a mais mais de todas)

    Joahn

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  3. Você tem um jeito especial de escrever. Apreciei muito o seu blog. Este texto embora tenha sido uma experiência particular sua nos remete ao tempo passado. Tempo de coisas boa, de recordações doces, de pessoas especiais.

    Parabéns, me fez lembrar de pessoas que amo.

    Valvez

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  4. Sinta-se feliz por tê-la conhecido, eu jamais tive a oportunidade de conhecer a minha.
    Sinto saudade de alguém que nunca vi, alguém que me esperou por dezenas de anos mas que se foi antes mesmo de eu nascer.
    Sinto ela comigo, do meu lado me ajudando e olhando pra mim, sinto vontade de chorar quando penso como as coisas poderiam ter sido e choro.
    Agradeça sempre, é o melhor a fazer.

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  5. Olá Ana, que bom que veiio! Teriam sido diferentes sim, com certeza. Mas aconteceu o que deveria acontecer, tudo a seu tempo.

    Xeru no coração, venha mais vezes!

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