sábado, 23 de julho de 2011

O Medo e a Paz

- O que foi? Do que está rindo?

Pergunta a paz ao medo:

- Hã? Ah, nada demais, apenas admirado com minha obra.
Fala o medo olhando para os homens com os olhos brilhando.

- Sua obra? Admirado? Como pode sentir admiração com o pavor escancarado nos olhos dos homens? Não vê como sofrem?

- Sim, vejo. É disso que me alimento. Mas confesso que não tenho precisado esforçar-me muito ultimamente. O homem cada vez esquece você e assim abre espaço para que eu habite nele. Ele mesmo - por suas próprias mãos - criam prisões, armas, venenos, violência, caos. Tudo criação deles. Assim é facil.

A paz põe-se pensativa e lastima ter que concordar.

O medo continua:
- Sabe,  não lembro de nenhuma época em que o homem fosse mais sensato. Sempre sedento por poder, movido por ambição, matando, multilando, aprisionando e submetendo seus iguais. Guerras por pedaço de terras, por tronos, guerra por guerra... por nada...

- Você está certo. Todavia, a humanidade não está definitivamente fadada a viver sob sua tirania. Eu ainda estou aqui. Ainda desejo cumprir o papel que me foi confiado. Diz a Paz com voz firme.

O medo gargalha! Porém a Paz continua...
- Há um exército espiritual sob o meu comando. Nós recebemos ordens de um ser supremo. Com a fé que nos move podemos voar, remover por completo a escuridão e espalhar pela humanidade inteira chuva de amor e de... paz!

- Mas para isso o homem precisa querer e parece-me que não estão interessados. Ressalta o medo.

- Alguns sim, certamente. Estamos numa batalha. Permanecerei alerta, sempre pronta e livre de qualquer descuido. Ao contrário do homem, nada temo.

O medo com tom irônico interrompe:
- Deveriam criar uma "bomba de paz" que atinja a humanidade por completo e faça esse trabalho que parece-me tão difícil. Seria mais rápido.

A Paz conclui:
- Haverá um dia em que o homem tenha criado dentro de si uma fonte inesgotável de paz. E ele ficará surpreso ao descobrir que ela sempre esteve lá, dentro dele durante todo o tempo. Mas sua cegueira interior lhes impediu de ver dando espaço ao medo. Quanto a você, nós só podemos dar aquilo que temos. O medo se alimenta do próprio medo. E esse será o seu fim: aniquilado por suas próprias mãos. E quando esse dia chegar terá o homem percebido que passaram gerações lutando contra eles mesmos. Que a verdadeira paz é aquela que nos move a fazer o bem, que nos faz amar o próximo, que nos leva a cuidar do mundo que nos foi dado em confiança, a garantir a existência de gerações futuras, a usar a inteligência para alimentar a luz e não a escuridão. Nesse dia a humanidade será livre, verdadeiramente livre.

Um comentário:

  1. O medo é a cegueira do indivíduo em relação a paz que o compõe... Muito bom Luiza!!!

    ResponderExcluir

Cada click é um toque, um afago, um carinho. Obrigada por ter vindo, lido e comentado. Paz!