sábado, 11 de junho de 2011

Brasão Capitalístico


O teu corpo raquítico encolhido nas mil calçadas desta cidade que escancara na mídia seu brasão capitalístico, ali imóvel e adormecido enquanto pés e pernas e braços e corpos inteiros movimentam-se apressadamente sem te ver. Precisam trabalhar. São mil pensamentos que lhes bloqueiam o visão, lhes furtando a reflexão da culpa ou mesmo da ausência de humanidade ou quiçá da ignorância.
São tão frágeis teus membros, teus cabelos misturados à poeira do chão e teu corpo não reclama a ausência de um fino cobertor, ou mesmo de roupa ou calçado, ou banho, ou ...
Não vês que é hora de acordar, o sol já escancara seus raios e te ilumina todo, e seu tato quente já não te queima a pele, já não te dilata os poros, já não encolhe tuas pupilas.
O teu estômago não se queixa das três refeições, ou mesmo de duas, nem mesmo a primeira, pois nem essa houve. Amanhã talvez...
O dia passa e em tuas mãos não pesa uma moeda sequer, e teus braços já nem insistem mais em manter-se esticados e com as mãos espalmadas cobre-te o rosto.
É noite! O corre-corre recomeça: pés, pernas, braços e corpos inteiros movimentam-se apressadamente sem te ver. É hora de regressar ao quente, embora humilde, lar. E os automóveis soltam seus gases, estrondam suas buzinas, e ultrapassam os sinais e todos têm tanta pressa... p r e s s a.
Logo tudo fica vazio e silencioso novamente. E recolhes novamente teu corpo raquítico nas mil calçadas desta cidade que...
Eis o brasão capitalístico...

7 comentários:

  1. Luiza!

    Boa Noite!

    Adorei este post é de uma sensibilidade muito grande. Quantas vezes nós mesmo passamos e não notamos nossas crianças jogadas na rua!

    Como você disse este é o preço de um mundo que da mais valor ao vil metal do que aos seres humanos!

    Estou seguindo teu blog também!!:D

    Parabéns pelo blog!!

    Um Belo Domingo!!

    Beijos,
    Elaine

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  2. Olá Luiza! Fiquei muito feliz com a tua visita e, principalmente, por teres te tornado seguidora do nosso humilde espaço. Isso somente aumenta a minha responsabilidade de melhorar tudo aquilo que crio e escrevo. Espero que voltes mais vezes, pois será sempre um prazer renovado. Eu, particularmente, aqui voltarei mais vezes, pois, além de teres um espaço interessante e bastante aconchegante, tomei a liberdade de me tornar teu seguidor, isso até quando permitires, é claro.

    Quanto ao post, belo texto e muito bem coordenado. O mesmo retrata a infeliz realidade que ora vivenciamos. Enquanto isso, as contas bancárias dos corrúptos lá da "Praça dos Três Poderes" em Brasília engordam cada vez mais.

    Beijos e ótimo final de semana pra ti e para os teus.

    Furtado.

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  3. Lu,
    A sensibilidade e delicadeza de seus olho para o mundo é algo tocante. E a realidade mundial da pobreza e abandono é mais que fixante.

    O poema está lindo porque mostra, denuncia, aguça nossa percepção e reflexões. E tudo isto, como sempre, é o efeito que sua poesia consciente proporciona aos leitores..

    Adoro te ler irmã...

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  4. Um texto leve mas com uma opinião acertada e incisiva sobre as mazelas do capitalismo.
    Um abraço e muito obrigada por tua visita. Uma excelente semana.

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  5. ELAINE
    Que bom te receber aqui. Venha quando puder, é nosso cantinho. Obrigada pelo comentário e força. Adorei seu blog, tudo escrito com muita inteligência e sensibilidade
    Bjsssss


    FURTADO
    Obrigada por me "seguir", como você diz, isso torna maior a nossa responsabilidade. Adorei o teu, perfeito. Volta sempre.
    Bjss

    MINHA BIA
    Como sempre companheira fiel do meu blog, tudo começou com vc seguindo e acreditando, lembra? Aqui é tua casa também.
    Bjs florrrr

    SONIA
    Adorei teu blog. Adorei a forma como escreve e acredite que irei lá muitas vezes. Obribada pela visita e pelo gentil comentário.
    Bjussss

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  6. Na prática é esse o efeito capitalista. Metaforicamente, é essa a atitude coletiva a perpetuar a exclusão social. Belo e poético texto!!! Parabéns!

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  7. Sidney, excelente complemento.

    Valeu/Abração e obrigada pela visita de sempre

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