quarta-feira, 11 de maio de 2011

Vigília

Não era ou é o seu ofício, mas tornou-se vigia de si mesma. As noites são intensas, longas e ela vigia seu pequeno altar para que “aquele que rouba sonhos” não se aproxime. Prefere então não sonhar, porque sonhar significa que adormeceu. Então a noite que parece ter mais horas que um dia inteiro alonga-se trazendo consigo os medos, as lembranças, o passado e o presente que de alguma forma encontraram-se e misturaram-se formando uma mistura densa. As pessoas não entendem seu ofício, remete-se então ao silêncio e tenta, sozinha e lentamente, curar-se e remendar-se apanhando do chão os pedaços de si mesma e colando-os novamente em seu corpo – um a um – como um quebra-cabeça.
A vigília continua e às vezes o cansaço a vence e então adormece. E, esse momento que deveria ser o repouso das almas cansadas, é então o início do tormento que tanto evitara. Ele vem, a luta recomeça. No final não há ganhadores. Todos perdem. Sempre perdem.
Mas o dia vem, o seu altar molhado pela luta estabelecida é recomposto. Coloca sua capa e sua máscara. Recompõe o rosto. Abre a porta e saí. E tudo continua do mesmo jeito.
Ela segue tentando apanhar flores no caminho. Segue com sua capa e máscara e todos a elogiam por aparentar ser uma guerreira destemida. Mas o silêncio que a compõe também a destrói. Mas ninguém tem nada a ver com isso, pensa ela.
Talvez ela seja mesmo esta guerreira que tantos acreditam. Talvez não seja. Talvez essa capa, essa máscara tenha causado essa impressão porque no fundo, ela é só uma menina que remetida aos seus seis anos de idade, tem medo do escuro, tem medo das pessoas, tem medo da rua, tem medo da vida.
E o seu maior medo, é que aqueles que hoje seguram sua mão um dia se cansem ou se distraiam e a soltem. Ela sabe que precisa vencer seus medos sozinha, luta para isso. E por isso, a vigília continua...

Um comentário:

  1. Muito forte o sentir, o desabafo e o sofrer.
    ...Não pdoer dormir é uma agonia infinda.

    Um triste pesar; Resta-nos recorrer a fé mesmo para suportar a guerra. Em que se alista para lutar é guerreiro e será sempre guerreiro da patente VIDA.

    Amo você!

    Lindo poema!

    ResponderExcluir

Cada click é um toque, um afago, um carinho. Obrigada por ter vindo, lido e comentado. Paz!