quinta-feira, 5 de maio de 2011

O tempo

O tempo detém em si o segredo de consumir-se sem percebermos
É um relógio que, parado ou andando, faz-se contar em segundos, dias, anos e até momentos
Cronometro invisível, nada mais é que engodo para fazer-nos pensar que podemos controlá-lo, prendê-lo, detê-lo. Engano desmedido
Finge ser infinito, assim, não o vemos passar. Acreditamos consumi-lo, a verdade é inversa
Impiedosamente nos impõe a gravidade até o último grão, expõe nossa fragilidade e a escancara no espelho da nossa vaidade
Imparcial, não se detém a distinções: Devora a todos impiedosamente
Todavia, tão vão seria viver matando o tempo. Seria o mesmo que matar-se sem sentido

Diz-se dele, então, invisível ponteiro da vida. Crueldade desnuda e inocente é também peça necessária do fim, sendo este inevitável. Tem fome e sede insaciável. As sombras que se movem o trazem escondido por traz de si.
Ele, ele mesmo, encarrega-se de representar - soberano - os objetos que não nos servem mais, as pessoas que há muito não vimos, as cartas amarelecidas, as crianças que crescem, os velhos que morrem, as fotos que desbotam, a esperança perdida e também aquela renascida, a podridão das frutas que sequer foram colhidas... e a vida
Triste realidade: ele está até nas memórias e lembranças já esquecidas. Nos deixa por herança a esperança de Pandora.
Ele, o tempo. Senhorio e rei de duas faces. Ora nos mata, ora nos dá vida. Dono irremediável e incontestável que traz sempre embainhada a faca amolada da fé cega.

3 comentários:

  1. Lu,

    O poema está tão lindo e não tem anda de desconexo.

    "Impiedosamente nos impõe a gravidade até o último grão, expõe nossa fragilidade e a escancara no espelho da nossa vaidade"

    É uma pandora sim e só vivendo é que podemos ir abrindo instante após instate uma caixa... sem medidas.
    Viver...

    Amo te ler, amiga!

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  2. Lu,
    seus escritos me impulsionam sempre a reflexões.
    Adoro.

    Passei de novo para te reler e para dizer, irmazinha minha, que

    eu
    a m o muito

    v o c ê!

    Saudades

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  3. O tempo. O nosso aliado aqui nesse plano. A nossa ilusão... Muito bom, Luiza!

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