quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Barraco de vidro

Os vidros trincaram, mas não  chegaram a quebrar
Tento remendá-los, impedir que que se estilhacem
Enquanto tento, corto-me!
O sangue escorre no seu transparente escudo e tingi-o de um vermelho forte
O cheiro! O choro! Contenho-me!

Distraiu-me com um pássaro na janela
Uma garoasinha se aproxima e vejo pingos cairem lentamente
Folhas secas por todo o quintal, frutas apodrecendo no chão
Janelas e portas abertas – aguardam a sorte (e ela vem)

Um menino com calção amarelo brinca na lama que se forma
Abre os braços, arregala a boca e abocanha algumas gotinhas
E dança, e canta, e pula e vive. E vive

Aquela sensação de isolamento, desolamento, descontentamento, enegrecimento reduziu-se e resumiu-se a um longo sorriso

O sangue já nao tinha mais cheiro
O vidro, já não me importava mais suas trincas
E, naquele momento: o pássaro, a chuva, o menino, as folhas, as frutas
Tudo me fez sentir mais leve, mais feliz e mais livre

E entendi que, se meu barraco é de vidro, é fatal que trinque: esse é seu fim
Mas nunca, nunca será o meu! Meu barraco é de vidro, mas eu não!

Um comentário:

  1. Sentimento imagético... Uma estória se desenrola em nossa mente de leitor.
    E como não se desmiuçar na beleza de um simples momento e sorrir? Como?

    "Meu barraco é de vidro, mas eu não!"
    Amei o fechamento. P er feito.

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