quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Arrumando meu barraco de vidro

Hoje resolvi que iria limpar o meu barraco, prepará-lo para o novo, ou se ele não vier não tem problema, simplesmente deixá-lo limpo já me alegra.
Cuidei para que suas frágeis e arranhadas paredes transparentes pudessem exibir o festival de cores que graciosamente e silenciosamente é exibido lá fora.
Varri o chão de barro pisado, arranquei uns matinhos que ali nasciam.
O teto de vidro foi o mais difícil. A poeira tomara conta. Mas não me intimidei. Afrontei-o e eliminei cada partícula que impedia àquela luz maravilhosa de entrar. E ela por fim entrou majestosa.
Meu barraco de vidro não tem moveis nem mesmo uma cadeira. Não tem luz ou água. Mas é um lugar tão bonito, tão calmo e silencioso... Os barulhos que vez por outra entoam seus ruidosos cânticos de horror, dor, tristeza, solidão só eu os escuto. Só eu os sinto. Assim preservo aquele lindo lugar, mantenho-o preparado para quem chegar.
Quando a noite chega, posso contemplar o chão de estrelas e o chamo de meu. Aprumo minhas mãos por detrás da cabeça, deito-me à vontade no chão de barro que acabara de limpar e me delicio contemplando cada cintilar daqueles astros. Olho ao meu redor, o breu toma conta, mas sua beleza é majestosa, perfeitamente negra.
Ali adormeço e faço-me merecedora do descanso maciço e inviolável. A chuva vem fininha e delicada voando e dançando voluptuosa nos braços do vento que a traz com gentileza. Juntos, cantam e embalam meu sono.
Sonho! E nos meus sonhos refaço-me fazedora de minha vida, de meus passos, destino. Passado, presente e futuro caminhando juntos e gargalhando dos prováveis e comprováveis acasos que por acaso provoquei. Também sorrio. Acho graça que, eu sendo mera espectadora de mim mesma, continuo a atrever-me a ser escritora de minha própria história.

Um comentário:

  1. Cheiro de barro é bom e seu está impregnado de simplicidade.
    Um jarra pra beber água natural e bem fria, assim aquieta esse calor.

    Mas também me lembrei da musiquinha da casa que não havia teto, nem onde fazer xixi... rsrsrs
    O texto está descritivo e nos remete à uma realidade que é só sua.

    Você fala do negro, mas o texto é claro, límpido. Feliz, apesar da dor. Contém muita esperança nas entrelinhas.


    Como sempre... AMEI!!!

    Amo Vc!!!

    ResponderExcluir

Cada click é um toque, um afago, um carinho. Obrigada por ter vindo, lido e comentado. Paz!