terça-feira, 30 de novembro de 2010

Me pediram um texto alegre

Pediram-me um texto alegre, meus olhos tristes puderam sorrir. Vi que meus lábios mudando sua posição também reagiram. Achei engraçado. Sem perceber, vi que de fato só havia escrito sobre coisas tristes. Como puderam ver e eu não?!  Fiz uma releitura de tudo, vi uma Luiza sem cor, sem vida, triste.
Mas essa era de fato a Luiza que existia em mim. Não poderia mascará-la, embora mascarados todos nós sejamos. Somos feitos de partes, cada parte desigual e irregular em sua própria existência, cada qual com seu adorno particular e intransferível.
“sorri e vai mentindo a tua dor, que ao notar que tu sorris todo mundo irá supor que és feliz” Estaria Chaplin certo?
Lembram da minha roseirinha assassinada pelas formigas? Algo me dizia que eu não poderia realizar seu funeral... Fiquei ali contemplando seu corpo já ressequido e abatido pela sua natural mortalidade e decidi: tentarei mais uma vez.
Troquei seu jarrinho, reforcei sua terra, eliminei os espinhos, as pedras, as folhas. Deixei só o seu tronquinho... Fininho que mal compreendia a voracidade do vento. E não poderia se morto estava.
Posso descrever a noite de ontem como uma noite alegre. Como de costume, fui alimentar minhas plantinhas... Tamanha a minha surpresa ao perceber que a roseira respirava, estava reagindo. Como poderia?
Pensei naquele momento que todos nós, em nosso momento de dor, tristeza, solidão, só precisamos que ALGUÉM NÃO DESISTA DE NÓS. É triste quando alguém desiste de nós. É triste quando desistimos de alguém.
Eu não desisti da minha roseira e ela reagiu. Poderia tê-la jogado fora ou aceito a opinião dos outros quando diziam “Roseiras são assim mesmo. Não duram muito. São muito frágeis.” Às vezes as pessoas não sabem lidar com nossas fragilidades e não sabem como nos ajudar em nossos problemas e por isso desistem de nós. Mas o caminho mais fácil é mais difícil. A porta é mais estreita e ali vários corpos aglomeram-se. O caminho mais difícil, embora doloroso e sofrível nos conduz a vales mais verdejantes.
Por outro lado, nós é que não podemos desistir de nós mesmos. Esvaziar-nos de nós mesmos. Exilar-mo-nos de nós mesmos.
Não sou totalmente triste, tenho meus fantasmas. Nem sempre me deixam. Mas quando tiram folga (ninguém é de ferro, nem mesmo os fantasmas, rss) eu posso sorrir. Posso admirar o belo onde só existe feiúra. Posso tocar o bem onde só existe o mal. Posso doar-me mesmo achando-me vazia e alegrar-me ao perceber que de minhas pedras saíram leite e então pude alimentar alguém.
Posso rir das bobagens dos meus amigos e até das minhas próprias. Posso divertir-me com minhas máscaras. Uso as mais coloridas, as mais extravagantes e elas vão me contando suas estórias de quando estavam sós e eu sorrio à custa de suas desvantagens de se submeterem-se às minhas vontades, embora acreditem terem vida própria. Eu as criei. Difícil admitir isso. Mas nós as criamos. Ninguém mais. É nosso céu e inferno. É nossa cura e nossa doença. É nosso bem e nosso mal.
E, poder SER QUEM SOU e ACEITAR-ME COMO SOU me conduz a uma LIBERDADE que me torna feliz. Parece contraditório, mas a vida é contraditória. É o que somos. Essa é Luiza. Simplesmente Luiza.

3 comentários:

  1. Bendito seja este sorriso.

    "Quando a gente gosta é claro que a gente cuida" como bem compôs o Peninha e admiro sua insistência numa plantinha murcha, sua insistência foi a salvação dela.
    Que esta seja uma lição pra toda a vida. Nunca desistir de si e de ninguém, mesmo onde há morte pode haver ressurreição.

    E, amigo, confesso, adoroooo quando vc sorri.

    Deus te abençoe!

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  2. Oi, Luiza.

    Obrigado pela visita e pelo elogio.

    Gostei muito do jeito como você escreve. Muita sensibilidade e inteligência. Voltarei sempre.

    "É melhor ser alegre que ser triste..."

    Um beijo.

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  3. "nós é que não podemos desistir de nós mesmos. Esvaziar-nos de nós mesmos. Exilar-mo-nos de nós mesmos". Palavras belas, tristes ou alegres, são sempre belas... Muito bom, Luiza!

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