Dois irmãos adolescentes, cidade pequena. A mãe morreu de câncer. Pai viúvo quer casar de novo. Herança da família em questão. Briga. Desentendimento. Caos. Partilha de bens, separação familiar. Casamento. Nova vida.
Irmãos: um pra lá outro pra cá.
O mais novo empreende o que ganhou. Estuda. Dá certo. Encontra um amor.
O mais velho bebe, vai a festas, gasta quase tudo o que tem. Amigos se aproveitam. Perde tudo.
O pai agora casado, não se desprende do passado e não se enxerga feliz no casamento.
Encontram-se, brigam. Mais dinheiro. Os irmãos agridem-se fisicamente. Uma garrafa estava perto demais. O mais novo é gravemente ferido. Os curiosos acham que é caso de polícia. A polícia acha que coisa de família, o pai acha que é coisa pra psicólogo, os repórteres acham que é assunto de todos.
Segunda-feira o jornal estampa: “Irmão tenta matar o outro porque queria dinheiro pra comprar drogas”
Quem falou em drogas? Ninguém. É que assim dá mais impacto, vende mais.
A psicóloga acha que pode ter sido o trauma causado pela família desfeita. Acredita também que os pais deveriam ter imposto mais limites. Os vizinhos comentam que eles deveriam ser mais severos. Onde já se viu, dar um carro só porque completou 18 anos?
No jantar de muitas famílias a notícia do jornal é o assunto principal. Do outro lado da cidade, outros pais preocupados com o que leram alertam os filhos quanto às drogas, más companhias, os perigos do mau uso da liberdade e confiança que lhes dera. Em outro lugar, uma mãe solteira que trabalha 15 horas por dia lê a notícia e se preocupa com o filho de 13 anos que está em casa sozinho. Fala com a patroa sobre ele ser muito introvertido e algumas vezes disperso e agressivo (vêm sendo vítima de bullying na escola pública onde estuda e não conta a ninguém por medo e vergonha). Ela por sua vez a orienta a levá-lo a um psicólogo. Diz “pode ser drogas”. A mãe apavorada porque não tem dinheiro para pagar um médico, acende uma vela para Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e pede proteção. Noutro lugar, uma garota de 10 anos - que não lera o jornal - agride a irmã de 12 anos porque não a deixou usar sua bolsa preferida. A irmã cai machucada e inconsciente, sobre o próprio sangue que agora tinge de vermelho o jornal que acabara de ler.
O pai do início da história pede divórcio, perde muito dinheiro e bens com a partilha. O irmão ferido, agora fora de perigo, perdoa o irmão mais velho e o convence a trabalhar com ele, largar a boa vida. Aproveita e o convida para ser padrinho do filho que espera com sua namorada. Ele, arrependido e feliz com a notícia aceita. Os três homens, agora juntos, recomeçam suas vidas com o que restou da família. Após o jantar, sentam-se frente à lareira e olham logo acima a foto da mãe – que se fora vítima do câncer – e ali prometem sempre ficarem juntos, aconteça o que acontecer.