- O que foi? Do que está rindo?
Pergunta a paz ao medo:
- Hã? Ah, nada demais, apenas admirado com minha obra.
Fala o medo olhando para os homens com os olhos brilhando.
- Sua obra? Admirado? Como pode sentir admiração com o pavor escancarado nos olhos dos homens? Não vê como sofrem?
- Sim, vejo. É disso que me alimento. Mas confesso que não tenho precisado esforçar-me muito ultimamente. O homem cada vez esquece você e assim abre espaço para que eu habite nele. Ele mesmo - por suas próprias mãos - criam prisões, armas, venenos, violência, caos. Tudo criação deles. Assim é facil.
A paz põe-se pensativa e lastima ter que concordar.
O medo continua:
- Sabe, não lembro de nenhuma época em que o homem fosse mais sensato. Sempre sedento por poder, movido por ambição, matando, multilando, aprisionando e submetendo seus iguais. Guerras por pedaço de terras, por tronos, guerra por guerra... por nada...
- Você está certo. Todavia, a humanidade não está definitivamente fadada a viver sob sua tirania. Eu ainda estou aqui. Ainda desejo cumprir o papel que me foi confiado. Diz a Paz com voz firme.
O medo gargalha! Porém a Paz continua...
- Há um exército espiritual sob o meu comando. Nós recebemos ordens de um ser supremo. Com a fé que nos move podemos voar, remover por completo a escuridão e espalhar pela humanidade inteira chuva de amor e de... paz!
- Mas para isso o homem precisa querer e parece-me que não estão interessados. Ressalta o medo.
- Alguns sim, certamente. Estamos numa batalha. Permanecerei alerta, sempre pronta e livre de qualquer descuido. Ao contrário do homem, nada temo.
O medo com tom irônico interrompe:
- Deveriam criar uma "bomba de paz" que atinja a humanidade por completo e faça esse trabalho que parece-me tão difícil. Seria mais rápido.
A Paz conclui:
- Haverá um dia em que o homem tenha criado dentro de si uma fonte inesgotável de paz. E ele ficará surpreso ao descobrir que ela sempre esteve lá, dentro dele durante todo o tempo. Mas sua cegueira interior lhes impediu de ver dando espaço ao medo. Quanto a você, nós só podemos dar aquilo que temos. O medo se alimenta do próprio medo. E esse será o seu fim: aniquilado por suas próprias mãos. E quando esse dia chegar terá o homem percebido que passaram gerações lutando contra eles mesmos. Que a verdadeira paz é aquela que nos move a fazer o bem, que nos faz amar o próximo, que nos leva a cuidar do mundo que nos foi dado em confiança, a garantir a existência de gerações futuras, a usar a inteligência para alimentar a luz e não a escuridão. Nesse dia a humanidade será livre, verdadeiramente livre.
O medo é a cegueira do indivíduo em relação a paz que o compõe... Muito bom Luiza!!!
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