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terça-feira, 2 de agosto de 2011

SERhumano, acima de tudo

Costumo dizer que passamos uma parte da nossa vida tentando construir quem queremos ser e a outra parte tentando mudar quem somos.

Era só um garoto como outro qualquer, mas tinha uma vontade de fazer tudo diferente de todos. Uma alegria que beirava tonalidades teatrais, era popular. No auge de seus 16 anos achava que poderia abraçar o mundo inteiro apenas com a vontade voar, esticava bem os braços, fechava os olhos e atirava-se.

Em casa, sempre silêncioso e quieto. A casa sempre cheia impedia que percebessem seu silêncio. A bem da verdade, sua presença ou ausência era pouco notada. Exceto quando voltava para casa tarde da noite e esquecia sua chave. Alguém tinha que abrir.

O tempo passou e pouca coisa mudou. Ele, que passou parte da sua vida tentando compreender quem era, constituir sua personalidade a despeito de seus medos e dúvidas, pouco sabia a esta altura sobre si mesmo.  Mas sabia que era diferente, não gostava do que sentia. Sentia medo. Escondia-se num vaozinho que arrumara dentro de si mesmo e mantinha-se ali, encolhido. Poucos o enxergavam de verdade.

Como todos, um dia descobriu quem era. E embora tenha debatido-se ferozmente diante da realidade que o marcara pelo resto de sua vida, nada restava-lhe a não ser aceitar-se, uma vez que "seu mundo" não aceitava.

Colocou sua mochila nas costas, vestiu seu all star, seu boné e foi embora. Na mochila só coisas essenciais, nada que pesasse ou o lembrasse daquela época em que tudo o reprimia, mal sabia que levava consigo um peso que não poderia dispensar, por mais que quisesse: suas memórias.

Hoje um adulto, ainda tenta aceitar-se e compreender sua natureza. Em meio a erros e acertos vai reescrevendo sua história e tenta colocar nelas um final feliz. A casa enorme e vazia é o espelho de sua alma, mas tem um enorme janelão escancarado por onde entram feixes de luz tornando o ambiente todo iluminado.

A história poderia ser diferente a partir de um certo ponto. O ponto que normalmente marca a vida de qualquer pessoa: Aquele em que não devemos estar sozinhos.

Sim, sua sexualidade é diferente. Mas suas necessidades de pessoa, de filho, de irmão, de amigo, de cidadão... são as mesmas de qualquer outro ser humano.

O preconceito fede tanto quanto a hipocresia que margeia nossa sociedade.

Repensemos.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Grito silencioso

Sentado na velha cadeira feita por suas mãos encalejadas e enrugadas, o casebre de sapê iluminado por um lampião que queimava querosene incensando o ambiente. Os ombros ligeiramente caídos, as têmporas apertadas esboçava um sentimento que seus pequeninos não sabiam interpretar.

- Que foi Pai?
- Nada não filho, vai dormir.
- Não, vou esperar o Pedro chegar, enquanto isso, brinco com a Maria

O homem olha fixamente para os pequeninos, inocentes, indefesos e sente o peito apertar.

- Pai eu pedi a papai do céu que te desse um trabalho, Ele vai me ouvir eu sei. Porque dizem que Ele sempre ouve as criancinhas que obedece a seus pais e que vão à escola. Diz Maria com lindo sorriso nos lábios.

Pedro chega. Um menino de 8 anos, magrelinho e maior do que a idade supunha. Tira do bolso um saquinho todo amassado e põe na mesa que faz um barulho de algumas poucas moedas. Na outra mão um saco de pão, apenas três foi o que conseguiu por ajudar uma senhora ao carregar suas compras.

O pai, sente o coração ainda mais espremido.

- Pai, você já comeu? Eu trouxe uns pãezinhos, são só três, mas dá para todos comermos na janta.

O pai o olha com admiração, o toma em seus braços e lembra-se quando ele era criança. A história se repete.

- Não filho já comi. Divida com seus irmãos e depois leve-os para a cama.  O que sobrar, fica para o café da manhã.

E assim Pedro obedece. E o pai, que mentira sobre ter-se alimentado, engole a seco às lágrimas que teimam em querer sair e exprime uma prece silenciosa por um dia melhor.

E as crianças vão dormir. Juntam suas mãozinhas e repetem as preces que fazem todos os dias. Preces repletas de esperança e sonhos.

O lampião é apagado, mais uma noite termina.

*** Essa é uma história real, infelizmente. E ficamos a nos perguntar "O que podemos fazer?" e enquanto nos perguntamos o tempo vai passando, vamos consumindo mais do que podemos, ganhando mais do que precisamos, recebendo mais do que merecemos. E outros vão vivendo à margem da sociedade, transferindo sua miséria de geração em geração. Nunca estamos satisfeitos.

Os filhos ficam emburrados quando não lancham na McDonnald. As esposas ficam insatisfeitas quando não são levadas para jantar toda semana. Os maridos ficam stressados quando não tomam seu Whisky. Os adolescentes querem acompanhar a moda do momento que dura cada vez menos.

Viver é caro. E pelo que parece, caro não é o suficiente para nos fazer parar e pensar: Se é difícil para nós, como será para os outros?

Talvez porque não saibamos de fato o valor das coisas e das pessoas. Talvez porque seus gritos sejam silenciosos. Talvez porque não enxerguemos bem.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Saudade boa

Hoje andei revirando o meu baú. Encontrei uma fotografia tão antiga com os rostos borrados pelo tempo e pela humidade. Mas dava para ver bem: uma garota de 5 anos com seu vestido rodado, xadrez em vermelho e branco, com mangas fofinhas, cabelo ralinho e quase branco (feito espiga de milho e com um cabeção), essa era eu. A mão direita na cintura e um sorriso que ficou ali. No mesmo cenário  meu irmão com seu conjunto de shorts e blusa vermelha - as crianças sempre têm o pai por herói, o meu era meu irmão -, completando a paisagem de uma época feliz minha linda avó (motivo da minha nostalgia hoje). Mas são lembranças felizes.

Nunca gostei do meu aniversário porque foi quando ela foi embora e tudo ficou diferente. Era a referência mais real de amor materno que já tive na minha vida. Incondicional.

Sempre que estou triste, lembro dela afagando meus cabelos, colocando no colo, e eu recostava em seu peito enquanto desfazia suas tranças longas e lisas. Meu irmão disputava comigo aquele colinho, mas o dividíamos sempre, era tão meu quanto dele.

Nunca tivemos quem nos dissesse o que era certo ou errado, ou que indicasse caminhos, ou que sentasse conosco para fazer tarefas, ou que fizesse um bolo gostoso no dia de nossos aniversários. Mas tínhamos um ao outro, e ela por anjo. Nossa maturidade veio de mãos dadas. Era necessário crescer antes do tempo, era necessário calar a vontade de brincar, ou simplesmente rir com desenhos animados. Tínhamos de ser gente grande.

Mas essa história não é triste, não a trocaria por nada. Essas linhas não contêm manchas de lágrima (exceto a de gratidão).

Lembro que ela sempre contava para nós que quando se fosse não seria para sempre. Quando quiséssemos falar com ela, era só olhar para a lua que ela estaria lá dentro - sempre imaginei ela pilotando  a lua - (daí o meu hábito de ir imaginando o cenário de coisas que vão me contando, é ouvindo e visualizando) e lembro que quando ela se foi passei dias a fio no quintal de casa olhando para a lua e conversando com ela. Não tem como hoje olhar a lua e não lembrar dela. Não tem como fazer um bolo dia de domingo e não sentir o cheiro do bolo dela. Saudade boa.

Bom, dia 20 está vindo. E é um dia de saudade. E sei que este será muito diferente do que eu gostaria que fosse. Não terão velas para apagar, mas haverão desejos no coração que todos os dias fazem parte das minhas preces. Um em especial talvez não seja da vontade de Deus e tenho tentado me preparar para aceitar isso. Embora seja muito difícil, acho que vou precisar deixar esse "desejo" de lado, pois ele é só meu, e não deveria ser assim para dar certo. Mas aprendi a "dar graças por tudo".

Tottus tu